Porque e para que uma Biblioteca de Sementes?
Na Grande Florianópolis – tanto no meio urbano, periurbano, como no meio rural – está se perdendo rapidamente uma diversidade grande de espécies vegetais de interesse agrícola, florestal e da conservação da biodiversidade. A conservação pelo uso sustentável dessa biodiversidade é uma das estratégias mais promissoras para mitigar a perda da biodiversidade. A Grande Florianópolis tem a oportunidade particular de viabilizar ações coletivas de conservação pelo uso devido à diversidade cultural e interesse de um grande número de pessoas e organizações em aproveitar plantas para diversos usos. Porém, atualmente não existe nenhum projeto ou organização que conecta os interesses e esforços existentes para conservar e disponibilizar amostras pequenas de sementes agrícolas e florestais de forma gratuita para diversos interessados da região.
Um dos principais desafios dessa conservação de sementes vegetais é a sua viabilidade limitada em armazenamento, que varia drasticamente entre espécies vegetais. Por esse motivo é indispensável que o material seja renovado com frequência suficiente para manter o nível mínimo de germinação e vigor quando semeado. Projetos coletivos institucionalizados com diversos parceiros representam uma modalidade particularmente viável para conservar a biodiversidade aproveitada, uma vez que distribuem as tarefas de renovação do material propagativo – incluindo ressemeadura, manejo, colheita e processamento – entre diversos interessados, aliviando assim a responsabilidade e carga de trabalho para a instituição executora e os recursos necessários para esse serviço. Com essa abordagem, interessados ‘tomam emprestado’ gratuitamente amostras pequenas de sementes de uma ‘Biblioteca de Sementes’ (internacionalmente reconhecidas como ‘Seed Libraries’ que administram ‘empréstimos’ de sementes em vez de livros), as reproduzem independentemente e com recursos próprios e se comprometem a devolver sementes renovadas (nova geração) para a Biblioteca de Sementes, desta maneira contribuindo com a renovação e multiplicação independente e com recursos e mão de obra próprios, do material propagativo institucional.
A universidade oferece uma vantagem destacada como instituição para coordenar essa troca e renovação de sementes entre interessados da sociedade. A universidade integra estudo teórico, capacitação prática, pesquisa científica e desenvolvimento tecnológico numa mesma instituição, com constante comunicação entre essas esferas de construção e socialização do conhecimento sobre a conservação, o manejo e aproveitamento de espécies vegetais. As aulas práticas permitem que estudantes de graduação e pós-graduação aprendam a selecionar, semear, manejar, colher e processar sementes de diversas espécies e ao mesmo tempo contribuir para a renovação desse material propagativo. Os estudantes podem contribuir para construir e ampliar bancos de dados de uso e manejo de espécies vegetais e produzir materiais didáticos para facilitar a socialização desse conhecimento indispensável para a conservação pelo uso dessa biodiversidade. A credibilidade e os vínculos institucionais da universidade facilitam o estabelecimento e a manutenção de parcerias com outras instituições, projetos e indivíduos externos, funcionando como um articulador e conector de diferentes atores interessados na sociedade.
Porém, a manutenção de uma Biblioteca de Sementes requer uma dedicação frequente para catalogação, atualização e limpeza do estoque, planejamento para renovação, atendimento a solicitações pelo público externo à universidade, recepção e catalogação de ‘devoluções’ e doações de sementes para a Biblioteca de Sementes, etc. Essas tarefas envolvem oportunidades chaves para capacitação profissional de estudantes da graduação, especialmente do curso de Agronomia, mas também da Biologia. Porem, exigem um comprometimento pelos acadêmicos envolvidos que não é viável de ser encontrado entre graduandos voluntários.
Objetivo geral:
Estabelecer e manter uma Biblioteca Comunitária de Sementes de interesse agrícola e florestal para fins de conservação pelo uso sustentável da biodiversidade vegetal.
Objetivos específicos:
Catalogar, limpar, rotular e armazenar adequadamente sementes de interesse para agricultura, produção florestal, e conservação da biodiversidade por usuários da biodiversidade externos a UFSC;
Estruturar um banco de dados que catalogue os estoques de sementes disponíveis para interessados externos;
Planejar a renovação de sementes e identificar e comunicar parceiros para efetuar a renovação, conforme idade e características das espécies;
Receber e inserir na Biblioteca de Sementes devoluções e doações de sementes.
Metodologia
Os bolsistas conduzirão atividades de manutenção e ampliação de uma Biblioteca Comunitária de Sementes de diversos cultivos alimentícios e de adubos verdes (incluindo anuais, semi-perenes e perenes herbáceas, arbustivas e arbóreas). Os bolsistas serão capacitados para auxiliar na multiplicação/renovação (plantio, manejo, colheita), processamento (limpeza, avaliação, armazenamento, rotulação), catalogação pela internet e disponibilização do germoplasma aos interessados.
As sementes serão mantidos em geladeira, congelador ou armário de aço – conforme requerem as exigências específicas de cada espécies cultivada – no Laboratório de Ecologia Aplicada (LEAp) do CCA-UFSC no novo prédio da Fitotecnia na Fazenda Experimental da Ressacada (FER) e/ou em câmaras frias ou outras instalações adequadas de parceiros.
A través do site do Laboratório de Ecologia Aplicada (LEAp) do CCA-UFSC, será divulgado a importância da conservação pelo uso sustentável da biodiversidade vegetal e as orientações para empréstimos e devoluções de sementes da Biblioteca de Sementes. Conectado à página da Biblioteca de Sementes será divulgada informações detalhadas sobre adaptações ecofisiológicas, de manejo e aproveitamento das espécies disponibilizadas.
Em parcerias com professores de diversas matérias, principalmente das Ciências Agrárias e Ciências Biológicas, serão disponibilizadas sementes para multiplicação e renovação em aulas práticas. Em parceria com outras instituições serão trocadas e renovadas sementes e dados e observações do seu desempenho.
Um banco de dados online (já pré-construido em forma de rascunho pelo LEAp) sobre espécies, variedades, quantidades disponíveis, cedidas, recebidas, e testadas será mantido para facilitar o aprimoramento continuo da utilidade e do funcionamento da Biblioteca de Sementes.
Público Alvo:
Moradores e agricultores de Florianópolis e municípios vizinhos interessados em cultivar espécies vegetais para conservação pelo uso sustentável [abordagem a través da divulgação pela internet, pelas redes de agricultores e da assistência técnica e extensão rural (ATER), projetos, escolas, pelos formados em Agronomia, Biologia e outros cursos da UFSC, etc]
Instituições e grupos informais interessados em renovar o seu estoque de sementes, adquirir novas espécies, receber ou dar capacitação, etc [mais de 10 organizações pré-identificadas; com a maioria o LEAp já iniciou uma parceria formal ou informal, p.ex. Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo CEPAGRO; EPAGRI; COMCAP; FLORAM; Hortas escolares; Hortas comunitárias; agricultores parceiros; etc]
Referências
DESA, Melissa (2016) Seed libraries. Pp. 281-291 em: Sowing seeds in the city. Springer, Berlin.
HELICKE, Nurcan Atalan (2015) Seed exchange networks and food system resilience in the United States. Journal of Environmental Studies and Sciences 5(4): 636-649
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